Nada substitui o trabalho de pegar o solo com a mão. A frase de Victor Froilano Bachmann de Mello revela a essência do trabalho de um dos mais experientes professores e projetistas de fundações em atividade no Brasil. Ele, um engenheiro civil-geotécnico, critica os projetos serem feitos quase só pelos engenheiros estruturais. "São profissionais generalistas muito importantes a quem servimos, que aplicam fórmulas e não respeitam as especializações." Mello acha um exagero a opção indiscriminada, quase geral, por fundações profundas, que oneram o empreendimento e empobrecem a sociedade. Não faltam críticas também às normas, especificamente as de sondagem, segundo ele, talvez a etapa mais importante da análise de projeto de fundações. Redigidas há mais de 50 anos para São Paulo, as normas desconsideram as características do solo de regiões como a de Santos, no litoral paulista, onde predominam argilas moles, escorregadias e plásticas. A vasta experiência do engenheiro na execução de barragens o faz criticar soluções como o rebaixamento da calha do rio Tietê, em São Paulo que, de acordo com ele, será ineficaz no futuro. A construção de túneis sob o rio seria mais eficiente, segundo o especialista, porque consideraria o aumento do volume de água nos próximos anos.
Como os softwares podem ajudar na execução de um projeto de fundações? É aconselhável esse tipo de recurso em todas as etapas de projeto?
Software é apenas um meio. Felizmente e Oxalá, o último deles. Qualquer pessoa que começar um projeto diretamente pelo software está cometendo um engano. O primeiro cálculo deve ser feito à mão para que a pessoa possa sentir o problema. O primeiro passo que deve ser tomado é calcular os pilares máximo, médio e mínimo à mão, para que se possa sentir a ordem de grandeza com que se está lidando. Nesse sentido, a régua de cálculo é um instrumento que dá uma precisão mais do que necessária para a engenharia civil. A partir daí, o software deve ser usado para tornar o processo mais rápido e direto. E só.
Qual a medida de desaprumo considerada aceitável num edifício em virtude de recalque de solo?
Depende de quem aceita e dos equipamentos disponíveis. A Torre de Pisa até tem sua inclinação convidativa para turismo. Em 1960, raciocinávamos em função do elevador, que não permitia mais do que 1% de inclinação. Já em Santos essa é uma questão jurídica. Qual a responsabilidade de quem constrói um prédio que prejudica o prédio vizinho? O recalque afeta e põe em risco outras edificações.
Obs.: Matéria publicada na revista Técnhne, edição 83 de janeiro de 2006.
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Acho extremamente importante o domínio de softwares em nossa área. Facilitam e muito, mas para servir de ponto de partida em um projeto de fundações não acho suficiente e seguro.
ResponderExcluirA prática do dia-a-dia em campo,
e "o trabalho de pegar o solo com a mão", como menciona o autor, é bem mais de meio caminho andado ou escavado...
Cleriston Bardini